Levantei e fiz café, ela amava quando eu levava pra ela na cama
Mal consegui ver seu rosto, ela estava de costas e com o lençol cobrindo as partes que eu mais queria ver. Suas costas e tudo abaixo.
O Sol entrava sem pedir licença pela janela e iluminava todo seu corpo. Perfeição ou perversão da natureza?
Agradeci à Deus por mais um dia de vida, por ter ao meu lado a mulher que amo, pelos meus filhos, problemas, cachorros e gatos...
Agradeço também pelo meu passado, presente e tudo que ainda vai acontecer.
O café estava pronto, coloquei bastante açúcar pra adoçar a vida e preparei pão com ovos mexidos, que é a única coisa que sei fazer na cozinha além de: macarrão, ferver água, fazer chá e café, miojo, hot pocket, pipoca e lavar louça.
Ela acordou e sentou na posição indiozinho na cama. Olhei em seus olhos, sorri e ela riu pra mim.
Acho que ela lembrou da madrugada que tivemos.
Hoje é meu aniversário e quem ganhou presente fui eu mesmo, Deus abriu mão de seu anjo mais belo e casou ele comigo. Aliás, você é tão linda, sabia?
Eu sei que você sabe, é que às vezes você esquece, então te lembro todo dia.
Vou ser assim, romântico pro resto de nossas vidas.
As crianças vieram correndo e se agarraram na minha perna, o Felipe e a Ana realmente eram os filhos perfeitos. O Fe, era hiperativo e a Ana, artista. Puxou você.
"Parabéns papai!"
Abracei-os como um urso e fui preparar os cereais que eles amavam comer. Enquanto você me observava e parecia dizer que me amava pelo olhar, e eu olhava de volta e respondia que te amava mais ainda.
Amava essas conversas que a gente tinha em silêncio.
A noite foi boa.
"Parabéns, amor."
Cheguei cansado do trabalho, tirei os sapatos bem-engraxados e deixei-os fora de casa. Eu gostava assim. Afrouxei a gravata e abri o cinto, você estava vendo tv e olhando pro celular. Devia estar lendo alguma bobeira na internet ao som da novela das 8.
Como você sabe, odeio novela, e logo trocou de canal e colocou no Discovery, estavam falando sobre baleias, escutei sua voz antes de você falar.
-Como foi seu dia?
-Cansativo. Estamos abrindo uma sede em Xangai e vou ter que ficar lá uma semana. O almoço que você fez tava muito bom (joguei fora e pedi uma marmitex) e o recadinho foi lindo (realmente a forma que ela demonstrava amor era apaixonante).
E o seu?
-As crianças estão agitadas por causa da volta às aulas e fiquei sozinha quase o dia todo. O fe brigou com um aluno novo e a Aninha desenhou a tarde inteira...
-Quer pizza de que?
-Você sabe.
Pedi uma pizza pra mim e outra pra ela, sendo que a gente sempre comia junto, um da do outro fazendo careta e as crianças comiam das duas.
Coloquei eles pra dormir, contando uma história sobre robôs que trabalhavam no lugar de seus donos e o Fe perguntou porquê eu não comprava um pra fazer isso.
-Se eu tivesse um trabalho mais simples, filhão... hahaha
-Respondi.
A Ana desenhava tudo em seu tablet, que dizia ela ser seu melhor amigo.
Na minha época a gente desenhava com papel e caneta, eu disse. Como se eu desenhasse alguma coisa, pensei alto. Eles riram. A risada dela era igual a da mãe, e a dele, igual a minha. Era engraçado como a Ana parecia mais comigo do que com a mãe e o Fe mais com a mãe do que comigo. O problema era o sorriso dele e a risada dela.
Em 10 minutos estavam dormindo. Fizeram-me prometer, como sempre, que ia ligar quando estivesse viajando pra contar as histórias. Se eles soubessem que a mãe deles era bem melhor nisso que eu...
Às vezes eu ligava meio dia, mesmo quando tinha que coordenar mais de duas equipes ao mesmo tempo em lugares diferentes.
Minha prioridade foi sempre a minha família.
Apesar do meu trabalho ser muito cansativo, eu não me importava em almoçar rápido pra ver como minha mulher estava, do que precisava e, como estavam os amores da minha vida: meus filhos.
Era 27 de julho, 23:59, abri uma cerveja, entrei no quarto e ela estava saindo do banho, sorri e fingi ignorar a sua nudez. Pensei: estávamos velhos pra isso.
Ela pergunta:
-Tô gorda?
-Aham, gorda, cega e louca.
Ela riu. Amo aquela voz, aquela risada.
Ela vai pra sacada fumar e eu vou junto, só pra observar o céu maravilhoso de Atlanta. Pensei: Ela não tinha parado?
Nos mudamos por causa do meu trabalho há menos de um mês e já vou ter que viajar de novo. Os cereais são caros e a educação das crianças também. Ela acenou com a cabeça sem eu ter falado nada.
Saiu uma frase de sua boca em meio a fumaça que eu já sabia que ia rolar:
-Vou sentir saudades.
Abracei-a por trás pra ela se sentir segura e sussurrei no seu ouvido:
-Eu também.
Dessa vez, a gente realmente tinha um relacionamento. A gente tinha uma família. Só que a gente ainda parecia ser aquele casal apaixonado de meados de agosto, há vários anos atrás, que já se amava e nem sabia ainda.
Ela odiava a palavra relacionamento, casamento, namoro. Então eu fingia que não gostava também.
A noite foi boa.
Não acho prudente narrar um conto erótico mas a primeira coisa a acontecer foi o tocar dos nossos lábios. Como eu amava beijar aquela boca. Nos beijávamos rápido, como se fosse a última vez, anunciando o sexo que estava por vir.
A gente nunca transava na cama, era sempre no banheiro, no chão, pelos móveis. Claro, pensei em tudo: Nosso quarto isolava o som com a dignidade de um estúdio, mas sempre estávamos de olho nas crianças pelo sistema de monitoramento.
Minha mão correu pelo seu corpo até tirar aquele roupão que ela tanto amava usar, ela já estava sem roupa íntima.
-Que novidade né?
Nem precisei tirar a calça ou o terno, ela já era profissional nisso. Pensei: puts preciso tomar banho.
Antes de falar:
-Depois você faz isso. E sorriu.
A gente transou a noite toda, paramos às cinco da manhã, quando nenhum dos dois tinha mais força.
Como foi, deixo pra você adivinhar, leitor.
Só digo que ela é talvez aquariana, não se chama Mariana e meu nome é Guilherme.
-Devaneios de um futuro não tão distante, parte I.
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