Recentemente passei em frente à um cemitério e refleti por alguns instantes.
Quantos nós que viraram eu's separados pela morte?
"Até que a morte os separe."
Mas não é atrás da eternidade, que corremos?
Não é a transcendência que buscamos?
Imagino quantos relacionamentos, amizades, casamentos e namoros foram interrompidos por uma causa irreversível: A Morte.
Ela vem sem avisar.
Vem pro rico, pro pobre, pro novo e pro velho.
Pra alta, pra baixa, pra magra e pra gorda.
Pro bonito, pro feio, pra quem fuma e pra quem não fuma.
Pra quem bebe, pra quem não bebe, pra quem vai á igreja e pra quem também não vai.
Pra quem dirige, pra quem não dirige, pra quem trabalha e pra quem não trabalha.
Pro preguiçoso, pro sanguíneo, pra quem doa órgãos e pra quem não doa.
Pra quem faz caridade, quem não faz, pra quem é confidente e também pro fofoqueiro.
Pro mentiroso, pro verdadeiro, pro empresário e pro padeiro.
Pra quem empina pipa e pra quem joga bola, pro atleta e pra quem nunca foi pra escola.
Pro filósofo, sociólogo... Independentemente do signo, ela vem.
Ela vem pra bruxa, pro pastor, pro leão e pra pequena.
O legal da morte, é que ela não aceita dinheiro; não faz sentido; nem um vintém.
Fica tranquilo, ou não fica, pois de qualquer jeito:
Ela vem.
Já dialoguei algumas vezes com a encapuzada de foice e chegamos á conclusão que a minha vida é uma piada. Rimos juntos, bebemos e fumamos. Falamos sobre Deus, sobre Satanás... ela disse que não trabalha pra nenhum dos dois:
-É um freelance, sou autônomo. Trabalho com o que eu gosto. Se bem que, o diabo pede muito mais. Mas são muitas solicitações e tudo tem que ter aval do Supremo. Afirmou.
Eu perguntei se devia chama-lá de Ela ou Ele:
-Tanto faz.
-Vou chamar de minha, então, sua linda.
-Rimos.
Dei uma cantada na morte, gente. Das ruins.
Quem é que faz piada com a morte?
-Eu.
Falei sobre amor e ela concordou com quase tudo. Chegamos num ponto da conversa onde ela me deu um sermão dizendo pra literalmente viver os dias como se fossem o último. Pois ela, da próxima vez, viria sem avisar.
Perguntei quem seria o próximo da minha família ou amigos e ela me disse que seria antiético dizer.
A morte falando de ética.
Quem diria.
Ela me falou sobre dinheiro e como ele pode se tornar uma ferramenta pra felicidade e, algumas vezes, adiar Sua vinda.
Mas ela me disse que mesmo Midas não conseguiu a evitar. Mesmo com todo aquele ouro.
Ela comparou a vida com um castelo de areia que você leva a madrugada inteira pra construir e vem a maré cheia da manhã e destrói tudo.
-Não é por isso que deixam de construí-los. Não é verdade?
-É verdade.
A morte entendia mais da vida que eu, vivo. Imaginei e questionei sua eternidade. Ou seria infinidade?
Ela me disse:
- Só tem 3 pessoas mais velhas que eu nesse mundo.
Pensei na santíssima trindade mas evitei falar sobre isso. Não acho que evangelismo seria apropriado naquele momento.
Pedi um último conselho e ela foi categórica:
-Morra pra viver e, não viva pensando em morrer.
Ela ainda acrescentou que ela só existe porquê não temos a maturidade necessária pra viver pra sempre.
Me disse também que odeia os suicidas e alguns tipos de drogas.
Ela disse:
-Me dão muito trabalho e, só de raiva, às vezes deixo-os vivos. Essas drogas de hoje em dia estão matando a sanidade de vocês aos poucos.
A morte criticando drogas. Pois é.
Disse mais:
-Ah, e sobre "a morte os separe", eu não separo ninguém! Aliás, odeio essa frase. Quem se separam são vocês! Se esforçando pra morrer numa luta constante, cheia de desgastes, brigas e traições. Quando puder, peça pra me tirarem desse discurso de casamento pois eu não tenho nada a ver com isso. Nem no começo, meio ou fim.
Anotado, dona morte.
Uau.
Nunca achei que ia ter uma conversa tão franca e aberta com alguém.
Eu olhei a morte nos olhos e,
Vivi.
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